Cenário econômico exige atenção redobrada dos empresários

Políticas públicas adotadas pelo governo federal para aquecer o consumo no curto prazo pode nos deixar em uma situação delicada mais para a frente

É verdade que o PIB (Produto Interno Bruto) de 2024 surpreendeu com crescimento de 3,4%, puxado, principalmente, pelo consumo dos lares, avançando 4,8%. Esse movimento foi estimulado por um mercado de trabalho aquecido, mas não podemos nos esquecer também dos reflexos do aumento do crédito, da liberação inicial de precatórios, da retirada de recursos da poupança e da própria impulsão dos elevados gastos públicos.

No Sincomercio (Sindicato dos Lojistas e do Comércio Varejista de Americana, Nova Odessa e Santa Bárbara d’Oeste), alertamos que estamos vivendo um “cabo de guerra” entre as políticas monetária e fiscal. De um lado, o Banco Central tenta conter a inflação com juros mais altos. De outro, o governo segue gastando mais do que recebe, mesmo batendo recordes de arrecadação. No ano passado, tivemos um déficit primário de R$ 43 bilhões, já considerando o que foi gasto com a crise no Rio Grande do Sul. Em 2025, para além desse cenário, seguimos com medidas que reforçam o consumo no curto prazo, como novos saques do FGTS, crédito consignado para celetistas e antecipação do décimo terceiro salário de aposentados e pensionistas.

É claro que, num primeiro momento, essas ações ajudam a manter a demanda aquecida. Mas os efeitos são temporários. Estão mexendo em reservas e antecipando renda, projetando-se aumento no endividamento das famílias. O resultado é um nível de consumo incerto em médio e longo prazos, em uma situação macroeconômica que deve continuar pressionado por uma inflação persistente e juros elevados.

Não podemos nos enganar: esse “fôlego” momentâneo não resolve o problema. Pelo contrário, joga o peso adiante, comprometendo o futuro e dificultando a gestão dos negócios. Em decorrência desses estímulos de curto prazo, as vendas de alguns segmentos comerciais até podem responder positivamente — inclusive nas datas especiais —, porém espera-se um cenário desafiador a partir do segundo semestre.

O crédito continuará caro e o poder de compra da população, fragilizado. Sem contar que, atualmente, 76% das famílias brasileiras estão endividadas e quase 30% inadimplentes, segundo a CNC (Confederação Nacional do Comércio). No município de São Paulo, a situação não é menos preocupante. De acordo com dados da FecomercioSP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo), 69,2% dos lares estão endividados, e 19,3% inadimplentes.

Diante disso, é importante que o empresário entenda toda essa conjuntura, que pode até ser de algum fôlego no curto prazo, mas tende a ser ainda mais difícil no segundo semestre (e em 2026). As projeções de vendas, a formação de estoque, a contratação (ou não) de pessoal e o relacionamento com os fornecedores devem levar em conta esse contexto de instabilidade e incerteza. A tentativa de incentivar o consumo no curto prazo pode gerar um preço alto demais para a sustentação desse panorama nos meses seguintes — e, como sempre, os negócios precisam se preparar para isso.

 

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